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Daniel, Hugues e Lagarde!

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As pandemias que hoje suportamos nos afastam da velha Lutèce, hoje Paris. Lá onde sempre estivemos, Tania e eu, desde há muitoe - sei que isso acontecerá - voltaremos a estar! Momentos e mais momentos - mais de um - retornam a minha memória, sem parar. Daniel, do Café de Flore, uma noite em janeiro de 2007 lembrando que a primeira vez que fomos ao Café, então há vinte anos ou mais, sentamo-nos no pequeno terraço da rue Saint Benoit e pedimos duas taças de Ladoucette e salmão! Lembrou-se de que nos hospedávamos por alguns anos no Le Montana, suíte Hemingway!

Daniel já está no Céu, onde um dia nos reencontraremos! Uma das mesas do Flore era sempre ocupada por Hugues de Giorgis, que também já se foi. Temos uma foto dele em nosso bar aqui em Tiradentes. Sobrinho do então futuro Cardeal Lambertini, estudou Ciências Políticas em Bolonha e era amigo do Monsenhor Roncalli, o futuro Papa João XXIII, com quem, às quartas-feiras, jogava belote bergamasque. Escrevi sobre ele em um livro, contando que ele flanava pelo Flore embriagado menos de álcool do que de vida, pleno de vida e esperança. Quando me falaram de sua morte, Regis e Michel do nosso Flore observaram apenas que ele gozou a vida, nada mais. Viu-se a sua foto, ao lado de Irène, no caixa do café, algum tempo antes do dia em que foi cremado.

Hugues, cheio de vida, lá se foi. Tudo passa em Saint-Germain. E somos outros, amanhã e todos os outros dias. O espetáculo é sempre outro, agora sem a presença material de Hugues. Compreendo perfeitamente a dimensão de tudo, a ausência de cada um. Sartre, frequentador deste café, tem exatamente, enquanto ser humano, a dimensão de Hugues. Os dois me faltam, intensamente, no espaço do café.

O Flore, na ausência deles, é outro. Pouco importa, a esta altura, na ausência de Hugues, o dinamismo deste espaço. Era um homem culto, amava a vida. Fez cinema, televisão e inúmeras traduções para a Éditons du Seuil. E lá se foi também para o céu. E ao meu lado também, agora, cá onde estou, monsieur Jean-Paul Lagarde, um dos habitués mais sólidos do Flore, a respeito de quem também escrevi no Paris quartiere faleceu em dezembro de 2015. Relembrei então que ocupávamos a mesa du Patron ou uma das de les amis du Patron, no interior da sala, imediatamente à esquerda de quem entra, ao lado da escada e do caixa. Uma das mesas sobre as quais há umas pequenas plaquinhas nas quais está escrito reservé. Desfrutamos desse privilégio. Mesmo agora que já não se pode fumar dentro do café abro mão do meu cachimbo e Tania do cigarro para estarmos ali.

Nós e mon ami Lagarde, cabelos brancos, a barba algumas vezes por fazer, antigamente sempre com um charuto na mão. Mais de uma vez perguntou-me se eu continuava a escrever. Continuarei até algum dia nos reencontrarmos, lá no céu!

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